Mudança linguística
A mudança linguística é um processo de modificação e
transformação que todas as línguas em geral experimentam - e
as unidades
linguísticas de cada um dos seus
níveis, em particular -, na sua evolução histórica.
Podemos
perceber a mudança linguística quando comparamos textos antigos com a escrita
atual; ou quando falantes de gerações, ou classes econômicas, ou culturas
diferentes se encontram e começam a dialogar. Estas situações revelam que a
língua está constantemente passando por transformações, ou seja, “que
estruturas e palavras que existiam antes não ocorrem mais ou estão deixando de
ocorrer; ou então, ocorrem modificações em sua forma, função e ou significado”
(Farraco,1991, p.10). O autor aponta ainda algumas características da mudança
linguística. Esta é contínua, lenta e gradual, e relativamente regular. E,
relata que para de fato uma variação linguística tornar-se uma mudança ela deve
ser aceita na oralidade por toda comunidade de falante e “passar” para a
escrita.
A mudança linguística se
diferencia da variação linguística. Enquanto na mudança linguística, as modificações são diacrônicas - e, portanto, são objeto
de estudo da linguística
histórica. Já as variações linguísticas são sincrônicas e constituem o objeto de
análise da sociolinguística, entre outras disciplinas.
Muitas teorias sobre a mudança
linguística foram propostas. Mas nenhuma delas dá conta de todos os fatos. Não
existindo uma teoria da mudança linguística que trate, apenas, dos fenômenos de
uma língua particular. Vale lembrar, enfim, que os termos linguística histórica
e linguística diacrônica são outras denominações para a teoria da mudança
linguística.
Nesse
contexto é útil distinguir entre a história da língua que investiga o
desenvolvimento das línguas particulares e a teoria da mudança linguística que
se ocupa dos aspectos universais desse fenômeno.
De
certa forma a linguística histórica exclui, da teoria da mudança linguística,
uma parte que, atualmente, chama muito a atenção dos pesquisadores: a mudança
linguística em curso, que pode ser observada, no tempo presente, mas que
(ainda) não pode ser vista como parte da história de uma língua.
Com o
fenômeno da mudança surge, também, o problema da identidade de uma língua, pois
apenas é possível falar de mudança se uma variedade consegue manter uma certa
identidade dentro da história e do espaço.
Convém
mencionar, ainda, os processos de mudança linguística que têm sua motivação
dentro do sistema linguístico, como a motivação fonológica de manter ou
aumentar certos contrastes no sistema e a motivação de realizar certas
regularizações fonológicas e morfológicas.
No
âmbito da teoria da mudança linguística, um ponto central de discussão
encontra-se na procura das causas da mudança linguística. De um lado, convém
perguntar pelo papel da causalidade no contexto da formação e na adoção gradual
de inovações. Do outro, observa-se que as variações/inovações que surgem no
contexto da atividade comunicativa e na realização de uma determinada intenção
comunicativa têm uma base que pode ser determinada e justificada pela
finalidade.
Desde
o início do estudo dos processos de mudança linguística, acreditou-se que há
uma ligação íntima entre a evolução e a mudança em geral. No século XIX,
tentou-se interpretar os desenvolvimentos gerais e os processos de declínio da
cultura no sentido de dar contextualização sócio-histórica aos desenvolvimentos
linguísticos.
O
estudo científico da mudança linguística ocupou-se até hoje, principalmente, da
mudança nos diferentes níveis e posições hierárquicas do sistema linguístico.
Todos esses tipos de mudança dizem respeito à langue, no sentido estrito. As mudanças linguísticas que pertencem
mais à parole
e que afetam o
conhecimento linguístico dos falantes individuais ou de grupos de falantes são,
raras vezes, incluídas e quando são consideradas, são analisadas apenas, de
passagem. Dentro do espectro das condições que determinam o desenvolvimento de
uma língua, é possível, também, ver, de modo semelhante, as mudanças
específicas que ocorrem nas diferentes gerações de falantes. Nesse tipo de
mudança, pode-se observar que, na produção linguística de falantes em
diferentes períodos da vida, a porcentagem de formas padrões e dialetais mudam de
uma maneira típica. É verdade que, nesse processo, não se trata de uma mudança
permanente e de caráter linear que altera partes do sistema linguístico, mas,
no estudo sociológico dos processos de mudança, também é comum considerar, ao
lado da mudança linear, os processos da mudança cíclica.
A
mudança linguística realiza-se, também, na comunidade linguística. Portanto, o
sistema das variedades típicas para uma comunidade linguística também deve ser
incluído.
Quando
se fala em mudança linguística, é comum dividir o processo total da mudança em
fases ou processos parciais; a saber, delimita-se, primeiramente, a fase da formação
da variação; em segundo lugar, discrimina-se a fase da seleção da variação e da
formação de inovações; e, em terceiro lugar, descreve-se como, no processo
final, a inovação é implantada no sistema linguístico, no conhecimento linguístico
e na comunidade linguística, ou, em caso contrário, como se passa a inversão
desse desenvolvimento quando os falantes ou certos grupos de falantes resistem
a essa mudança.
Os
processos de generalização de tais inovações podem ser descritos em três níveis
diferentes que são: no nível da langue, no nível do conhecimento linguístico dos falantes individuais
e, finalmente, no nível da comunidade linguística.
Desse
modo, as variações que, devido à variação inerente à língua ou devido à
variação funcional, apareceram em complexas e densas redes sociais que assumem,
regularmente, o caráter de um marcador para a identificação social do grupo no
qual elas surgiram. Nas redes mais simples e mais abertas, nas quais a
orientação pela ascensão social pode ser importante, é possível que essas
mudanças sejam provocadas por variações induzidas pelo contato com sistemas
vizinhos de prestígio, por exemplo, com o sistema da língua padrão. Encontra-se
aqui, certamente, um fenômeno sociolinguístico muito importante e altamente
significativo para a teoria da mudança linguística.